Este blog

mudou muito.




Não serve para capas de livros nem de cds, gratuito que é. Não está explicado em frases feitas, muito menos se comporta em manuais. Não é debate idealista para o frustrâneo feminismo, tampouco é bandeira para homens garantirem-se. Talvez é socialismo utópico, dentro do anarquismo rudimentar. É talvez unido pelos gesto, ou gerido por incesto, segmentado pelo ardor da saliva em cada órgão, que juntos, completam a orquestra do gemido fúnebre de células que morrem para nascer em outros tecidos.


Marcos Carneiro


Arestas

As unhas humanas ante grades.

O punho cravado no coração

que palpita no âmago das saudades

do ato de virar as arestas das cidades,

para que encontre você.




Os olhos a pescar passado,

sua imagem a deitar no meu olhado.

E rolar, rolar, e fecha-lo

para o sonho vívido de lhe ver talhado

meus dentes secos no teu lábio.




O grito mudo a chamar-te

e você, fêmea tirana, vindo a tomar-me

os liquidos, o tempo, o pensamento.

Minha vida a contemplar a tua,

que em mim, desfila nua,

enquanto te cubro ao relento.



Marcos Carneiro


Me recuso a acreditar no que não existe.
E correr nessas idas e voltas
como em uma esteira ergométrica.
Se acredito, é porque fio de verdade se tem por aí.
E recusando, quantos caminhos deixei de seguir?
Ando como se fosse em marcapasso. Talvez enfalço é o andado, mas sei onde eu erro, onde o tropeço é dado. Sei onde quiz errar apenas por capricho.
Sei onde me arrependo, e quando não tem mais volta.
Se pareço um ramo de galhos soltos, pode ter certeza
que hão de ser mudas para uma grande floresta.
As vezes um erro no tempo certo é melhor que o acerto intempestivo.
Por que um dos elementos que primeiro o tempo há de
legitimar, são os elementos da oportunidade.
Não vejo comodidade no casamento com o mundo, e
o cerne de toda essa nossa vivência um dia se rebela, deixa
derramar o âmbar da alma nas ruas.
E aceita o álcool entrar pelos nosso poros, aceita
o ato libidinoso, aceita a imoralidade,
e fazer da saliva colóidal, o único documento de indigentes,
como nós.
Há de se ter coesão em tudo isto.
Marcos Carneiro



Olha só o juvenil divagando no relento mundo formal:

O Olhar

Ás vezes, tiramos férias do tempo.
Então a gente se vê como uma estátua a contemplar o passar tautológico das tardes.
No meio do ofício, tiramos férias do mundo. E fechamos as cortinas à briga das ciências, à aspereza dogmática do professor sabido. Conceitos, concertos, definições, definhações.
Olhos no quadro negro, tudo negro é, para quem há mil anos está do presente.
Passamos então a puxar o fio lineável que se esconde nas situações e que nos leva à luz da reflexão onerosa de tentar descobrir até o que não se quer, o que não se pode. O tempo concebeu ao nosso corpo, mecanismo eficazes à materializar as infidáveis preposições que o cérebro capta. Estava eu alí, no cancro rígido da cadeira, sem ser marionete dos teóricos, indagando sobre o olhar.

(...)
Eventualmente, não muito longe da realidade, tiramos férias dos olhos. Então passamos a discordar do que se vê. Não por discordar pra não querer. É discordar para que o cérebro não coloque na gaveta mais um emaranhado de pulsos elétricos. É mais fácil sentar no marasmo, do que andar na esteira da exortação.
O olhar é mecânico, é elétrico, é exato. Não é humano. Ele sabe o que faz, de forma imediata.
Olhar é contrato. E assina-se com as pálpebras, as vezes nem levantadas.
E a visão é uma senhora estudada, letrada e carismática. Política de alto calibre.
E deve ser objetivo, o olhar não se engana: olha-se tudo, ou a necessidade olha por eles.
(...)


Naquele dia, olhei de uma vez. E o olhar, mais uma vez não se enganou. Apenas tirou-se da frente para pensar no próximo olhado. E olhando pensado demais, deu no que deu: este tanto de verbetes prescindíveis à nossa prática se alimentar com os olhos o que não se alimenta com a visão.
Quanto mais você me olha, mais desejo assistir a teu olhar. É tua faca de dois verdes gumes.

Marcos Carneiro
Premissas Maiores

Generalizando,

Toda Copa é do mundo. Todo planeta é terra.
Todo jardim é de inverno. Todo inverno é seco.
Todo Fato é social. Assim como todo caso é passado, e todo futuro é banal.
Toda pessoa é verbal. Seja primeira, segunda ou terceira pessoa.
Todo verbo é de ligação. Toda ligação é interurbana.
Toda sílaba é tônica.
Toda cidade é maravilhosa, todo adjetivo é pátrio.
Generalizando, toda morte é fatal. Todo câncer é letal.
Todo desemprego é estrutural.
Toda juventude é perdida. Todo buraco é negro.
Todo banco é de contas, mas nem tudo é da nossa conta.
Toda língua é falada, nem todas entendidas, mas todo entendimento é gratuito na mente do saber latente. Toda malha é fina, e a deles mais ainda.
Generalizando, todo direito é civil. Toda lei é natural.
Toda tristeza é nata, toda alegria é naturalizada. Por isso toda luta é de classes, e queremos o outro para complementar a toda cabeça dura.
Todo encontro é casual, toda casa é própria, e todo substantivo é abstrato. Como a comida que o faminto coloca no prato. Toda política é externa, toda conta é corrente, toda matemática é básica, assim como toda cesta é exata. Toda história é antiga, toda arte é contemporânea. Toda química é orgânica, toda solidariedade é mecânica. Sendo todo movimento harmônico algo simples, toda física é quântica.
Toda ciência é humana, todo humano há de contemplá-la. Todo número é real, racional, complexo. Mas nem todos são inteiros.
Generalizando, todo mar é aberto, toda navegação é grande. Toda carta é de amor, todo amor é platônico. Assim como
todo ator é um amante e todo poeta é falador. Toda paixão é ingênua, todo interesse é coletivo, todo ato é formal, toda forma é mortal, no parnasianismo morto e enterrado. Todo encontro é casual. Toda palavra é chave, mas algumas ainda são grades. Onde toda prisão é perpétua, pois se prende no tempo, onde todo tempo é relativo. Generalizando, todo bem é material, toda filosofia é crítica. Toda analítica é disrítmica. Toda mulher é mística, mas todo misticismo é bem amplo, no entender de todo homem que é feito, no todo feito histórico. Toda criação é divina. Toda religião é Cristâ. Todo deus é onipresente, onipotente, onisciente. Assim como todo narrador realista, e a ânsia e a fome do indigente. E o que bate nos conceitos, hão de roer a cabeça da gente.


Marcos Carneiro