Cinema, repetitivo cinema
Em 2012, Hollywood pode acabar



Vagando no ócio domingueiro de ver o tempo passar e tendo todos os recursos de entretenimento já se esvaídos, me peguei sozinho assistindo o filme "2012", do diretor Roland Emmerich. Não, não fui ao cinema - não faria isto sem minha namorada. Assiti de um dvd pirata jogado pela casa. Hollywood fresca com muita pimenta, é um narrativa cômoda a se fazer reflexões. E não muito forçosas, pois até um telespectador desatento pode ver uma graça maior nas animações dos estúdios da Columbia com a pitada de Vídeogueime da Pixar. O enredo é pouco díspare dos outros filmes onde há exatamente a história de Estados Unidos da América versus Forças ocultas ou naturais, como "Independence Day" e "O dia depois de amanhã", estes também dirigidos pelo diretor já em epígrafe. O mais interessante é que neste, o apelo não é nem tão influenciado pelo debate Ambiental - "jogue o lixo na lixeira, senão os homens desaparecerão" ou coisa assim -, confusão que pode ser remoída na mente do telespectador desatento. Fala-se de histórias bíblicas remasterizadas, calendários e presságios dos escritos orientais, os quais a gente, céticos de tudo, chutamos para os cantos. Deixamos na gaveta dos mitos. O teor bíblico está na ideia da salvação das espécies mediante uma estrutura naval rígida que suportaria um Tsunami maximizado, remetendo-nos a Noé, colocando uma fêmea e um macho de cada animalzinho dentro da embarcação (acho que estes preferiam não cometer o erro novamente). Só que dessa vez foi uma estrutura forte, metálica, confortável, aerodinâmica, e bem maior. Algo que só eles poderiam fazer, com ajuda da imaginação do estúdio. Calcularia, de cabeça bem otimista, uns 30 anos para ficar pronta. Porém, foi feita ás pressas: Filme né. Lembra também Nostradamus, não acha? Mas não confundemos os espíritos mediúnicos, pois este do filme é legado Maia. Além de tudo o que já vemos há muito tempo na telonas, como um homem normal que consegue subir em um avião em movimento, correndo a 80 km/h, ou como alguém que não tem extrema técnica de pilotar aviões, fazê-lo entre arranha-céus que desabam, o filme joga muito com a simbologia histórico -cultural -geopolítica de nosso planeta. Há uma inédita e frustrante - para os estadunidenses - Marcha para o Sudeste. O ponto mais estável do mundo, de onde a arca iria partir, seria na China, a potência emergente que ameaça atropelar os ocidentais em poucas décadas. Interessante como estão querendo já nos acostumar com o papel da oriente na tomada das decisões. E claro, pioneiro em toda a estratégia da "salvação da humanidade" está a figura do abre alas da White House: o todo poderoso, confiável, diplomata, hospitaleiro, carismático, falador em primeira pessoa do plural, esporte fino, bem informado e autoritário presidente dos Estados Unidos da América. Não era disforme do que se passa sempre nos noticiários de guerra, nos quais a imagem de Geogre Bush sempre será lembrada, como alguém que fala pra uma nação com o vocativo de Concidadãos. Era negro. Queriam dizer, por razões de reflexos da realidade, que sim,"we can!", o presidente ainda será negro em 2012: "esperançoso" Barack Obama. Mas na ótica do humor sagaz, digo, dando as alfinetadas parciais, que queriam mostrar a imagem do "presidente norte-americano negro" como o limiar da paciência histórica da igualdade racial: depois disso, o mundo podia acabar aliviado. Claro que há um beijo no final, entre mocinho e mocinha. Não tão caloroso como estamos acostumados - para não ofuscar o fundo moral que queriam tentar nos enfiar novamente. Algumas pessoas soltaram peripécias sobre a crítica deste filme de computação gráfica. Um moço terno, suíço, e de idade já avançada respondeu á certa indagação do repórter: "Eles querem passar medo na gente, dizendo que o mundo vai acabar." Dei risadas óbvias dessa gafe semântica do basco falante. Se Hollywood afirma que o mundo vai acabar em breve, porque irei ver filmes? O mundo vai acabar mesmo.

Marcos Carneiro