Vinte e oito

Quão dúbio é, em traços púberes, o teu rosto!
E como bipolariza, não por ti, nem por seu gosto.
E sim, por ser fêmea da tua espécie: a tua estaca,
condição que te move desde a tua menarca.

Vinte e oito dias, trinta pra arredondar
a incessante lesão no teu álamo,
vindo como Lua, em fases, te ressecar,
desde a mensagem do hipotálamo.

Dogma fisiológico que te imprime anarquismo.
Mitoses e meioses te deixam em insônia
quando resolve teu metabolismo,
já em detritos - grito mudo -, dar vida à Ovogônia.

E faz-se ciclo, o teu calendário hormonal,
esse pragmatismo que te deixa na lona.
E como deixas à deriva tua nal
pelo Lh, estrogênio e progesterona.

Pra quê a discussão e tocar na palavra cortante,
se tudo depende do teu folículo estimulante?
Há de ser tocado, por nós, em tão pueril mérito
sendo dependendente apenas do teu endométrio?

Entender não posso, como o volante é pouco teu,
e muito menos eu, a bula, posso lhe atirar.
Como podemos, tal empreitada, você e eu,
se nem teu corpo e temperamento tu podes controlar?

Acalma esse martírio, mas nem tanto,
dando ao corpo lúteo a sua absolvição,
dar sequência a prole - o teu efêmero pranto:
a célula diplóide a caminho da nidação.

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