Dia da Consciência Negra

Um dia para todas as raças irem ao parque, assim como os ateus no Natal comem peru




Está bem, leitor. Já sei que você está com a vontade jorrante de sair desta página, após ter visto o título e a lide deste artigo. Falar de consciência é como falar de Metafísica Kantiana: "A essência é do ser para si mesmo." Mas façamos uma forcinha. Este grifo se mostrará mais solidificado nas linhas abaixo. No dia 20 de novembro, 435 municípios decretarão pausa administrativa e fechamento do comércio para lembrar da morte de Zumbi dos Palmares - o maior símbolo da raça negra neste país, por ter criado o maior quilombo de resistência escravista, em Alagoas - em 1695, símbolo escolhido para representar a convenção. Antes, 13 de maio era a data na qual se comemorava, e esta data remete ao 13 de maio de 1888, quando Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (pausa para respirar), ou apenas princesa Isabel, decretou a Lei Áurea que determinava a abolição da escravatura. Os presságios que nos interessam, a priori, vai bem mais além da substituição da simbologia de cada data histórica, e sim na alma do dia comemorativo. Se o debate não é de suma importância à cabeça dos homens, pelo menos a integramos no ato de argumentar em vão, pra passar o tempo. Quando pensamos em consciência negra, logo nos vem à cabeça a destruição de apologia ao racismo, o preconceito racial. Partindo da premissa de que há uma dualidade no pensamento em que se inclui a consciência negra, chegamos a nos deparar com a grande dúvida: a consciência negra é algo voltada para os negros ou para outras raças, as quais nem aí estão para a disparidade da imagem racial ? A mídia divulga e o interlocutor assimila que a data servirá para debater sobre a comunidade negra, e as mudanças do Estado para ser flexível a uma futura e crescente adaptação de uma comunidade multirracional. É claro que, quando estamos afogados no rio insalobro da dúvida que integra a atualidade, recorremos à História, e neste caso, não temos como fugir deste mecanismo, pois temos de inserir símbolos dela. Será que estou enganado, ou estamos retardando no tempo para 13 de maio de 1888, a data que foi abdicada para representar a comunidade? Hipótese apenas, mas continuemos o fio lineável que já começei a desenrolar. A princesa regente foi totalmente criticada por fazer um decreto que, além de abolir outro decreto (Lei do Ventre Livre), amparava a liberdade de humanos sublevados, de maneira parcial. O Estado que ela administrava deixou a leva infindável de ex-escravos se tornarem mais sublevados ainda, marginais por incompetência estatal - e perceba como podemos já ligar presente e futuro, fazendo paralelismo obrigatório da marginalidade do negro, ainda incrustrada na existência de proporcionalidade fútil: a cada 10 penitenciários, 6 são negros. Então, quando vamos observar simbologia histórica, contra a comunidade negra e o fim para qual nasceu, os livros didáticos pressionam-na contra a lembrança da qual não precisam lembrar atualmente, pois não houve: que os brancos tiveram compaixão dos negros escravos. Lembrar do 13 de maio, é lembrar que uma grande mudança se fez num cenário onde tinha como fantoches os negros escravos, e que toda a peça se fez com dois diretores: o europeu e seu filho de pele cabocla. Jogamos então para atualidade mistificada. O negro assumiu a ponta-de-lança de criar para sua imagem de importância histórica, o seu dia, além de ser numa data mais simbólica e conveniente para tal. Mas o que tem de importância em si ? O que na cabeça das pessoas muda com o espaço que se tem hoje para lembrar da desgraça do escravismo ? Não que não seja importante para alguns, meus caros. O blogueiro aqui não é tão petulante para falar da legitimidade de tal expressividade social. Apenas jogo hipóteses de argumentação. Agora, voltando à dificuldade de falar sobre consciência, que tal sairmos da penitente Metafísica Kantiana e partirmos para Dialética Hegeliana (Tese, Antítese e Síntese), a qual é bem mais coadunável com os rumos que se tem de tomar o assunto? Que tal Barack Obama como exemplo? Está bem, novamente. Você quiz apertar o X vermelho no canto da tela quando disse de Dialética Hegeliana, e depois apertou quando falei sobre Barack Obama. Mas precisamos concluir este litígio. Partindo do fato de que o mundo se densenvolve em relação à vivências anteriores (Antítese), para concertar erros do passado (Tese) e constuir um mundo melhor no futuro (Síntese), considero o presidente da nação mais democrática do mundo, e uma das mais racistas - EUA - um sujeito que venceu a inércia do comodismo racial. Isto é a consciência negra: é fazer-se igual ao outro, sem esculachos midiáticos. Uma isonomia sincera (e isto é pleonasmo)

No dia 20 de novembro de 2009, milhares de pessoas irão às ruas ver as festividades culturais em várias capitais, onde irão lembrar de um dia em que a história se construiu já escrita para ser contada no futuro. E alguns sairão pra ver estas, ou irão para festas beber, assim como a princesa fez em 1888, quando se concretizou um erro de estratégia ou assim como os portugueses fizeram quando apunhalaram Zumbi pelas costas e disseram: "vamos tomar um Run agora, capataz. Cumpriste vossa missão."

Marcos Carneiro



Olhos do Estado
Nosso dia-a-dia mira no século XXI e acerta em antes de Cristo


Desde o início do desenvolvimento dos homens – e aceito a tese de que fomos muito lentos, “levando muito tempo para se desgastar um quadrado que futuramente se chamaria de Roda” -, as relações mundanas passaram por picos de decisões instintivas e vales escuros de irracionalidade, a qual sem os preceitos da dignidade social e humana, humanidade se confundia com selvageria - cortejava-se a mulher com paulada na cabeça, dizem. Então precisou-se inventar mecanismos que fizessem os indivíduos ‘andarem na linha’, quer dizer, seguirem princípios que levassem ao bem comum. A Moral foi o primeiro deles, brotando sincera na necessidade de quem tinha bom censo, e sendo colocada a força na cabeça dos imorais. No começo da história – e consideram que a passagem de Pré para História se deu com o advento da escrita -, grupos de indivíduos passaram a viver juntos e em um lugar fixo.
Deixando o nomadismo então, e vivendo sedentários onde se encontravam muitos semelhantes seus, onde cada um tinha seus interesses, haviam aqueles que interessavam nos interesses do outro. Do outro lado da pirâmide social, o governante, que observando os desgastes entre os interesses de seus concidadãos, necessitava de algo que fizesse delimitar o mérito de cada um para cada situação e coibisse aquele que não respeitasse esta convenção. Nasce então o Direito, que em livros de história, é bem ilustrada como legado de Roma – como se antes, num Egito qualquer, não fosse preciso normas para fazer a justiça se propagar pela sociedade. Aí é que está o ponto onde o blogueiro quer chegar, e chegou às duras penas, mediante este fio lineável quase maçante: a guarda do Estado, mediante monopólio da autenticidade, para que os indivíduos fizessem sua parte, cumprindo os preceitos Morais, que eles mesmos criaram dentro de si, mas não o fazem por motivos diversos. Até os dias de hoje, os humanos espreitam a irracionalidade, lembrando muitas vezes aquela do homem que sentava a madeira na mulher para corteja-la. E as invenções da modernidade ajudam quanto ao modo de se chegar ao sentimento de “cowboys fora da lei”. Rapaz invade calçada no Rio de Janeiro com seu novo Audi e mata duas velhinhas atropeladas. Rapaz de origem árabe, em Goiânia, mata e esquarteja namorada, colocando os pedaços em sacos de lixo para jogar no rio. Qual a moral existente num ser que pratica tal ato?
O que seria do bom convívio sem a coerção imposta pelo sinaleiro de trânsito, da faixa de pedestre e da fila do banco? O que seria da paz social sem as sanções que faz o criminoso pensar que será punido após o delito?
Não é interessante quando você olha o fotossensor e, automaticamente, tira o pezinho do acelerador? Ele lhe tira do estado natural e instintivo - que lhe fez estar a 100 Km/h numa via urbana - e o coloca no estado de Sociedade Civil - que lhe faz ter a compaixão da suposta vida que possa ser tirada no acidente, jogando uma dose de medo de perder os 'quinhentim' da foto.
Pois então é isto.
O Estado, seja com mão invisível ou competência mais invisível ainda, é como se fosse o parente no maior grau de hierarquia na ato austero do sermão. Cá entre nós, fumantes! A plaquinha que diz “É proibido fumar”, não tem alguma semelhança com a cara fechada de sua mãe, quando ainda adolescente, colocou na boca o primeiro pito?

Marcos Carneiro