Olhos do Estado
Nosso dia-a-dia mira no século XXI e acerta em antes de Cristo


Desde o início do desenvolvimento dos homens – e aceito a tese de que fomos muito lentos, “levando muito tempo para se desgastar um quadrado que futuramente se chamaria de Roda” -, as relações mundanas passaram por picos de decisões instintivas e vales escuros de irracionalidade, a qual sem os preceitos da dignidade social e humana, humanidade se confundia com selvageria - cortejava-se a mulher com paulada na cabeça, dizem. Então precisou-se inventar mecanismos que fizessem os indivíduos ‘andarem na linha’, quer dizer, seguirem princípios que levassem ao bem comum. A Moral foi o primeiro deles, brotando sincera na necessidade de quem tinha bom censo, e sendo colocada a força na cabeça dos imorais. No começo da história – e consideram que a passagem de Pré para História se deu com o advento da escrita -, grupos de indivíduos passaram a viver juntos e em um lugar fixo.
Deixando o nomadismo então, e vivendo sedentários onde se encontravam muitos semelhantes seus, onde cada um tinha seus interesses, haviam aqueles que interessavam nos interesses do outro. Do outro lado da pirâmide social, o governante, que observando os desgastes entre os interesses de seus concidadãos, necessitava de algo que fizesse delimitar o mérito de cada um para cada situação e coibisse aquele que não respeitasse esta convenção. Nasce então o Direito, que em livros de história, é bem ilustrada como legado de Roma – como se antes, num Egito qualquer, não fosse preciso normas para fazer a justiça se propagar pela sociedade. Aí é que está o ponto onde o blogueiro quer chegar, e chegou às duras penas, mediante este fio lineável quase maçante: a guarda do Estado, mediante monopólio da autenticidade, para que os indivíduos fizessem sua parte, cumprindo os preceitos Morais, que eles mesmos criaram dentro de si, mas não o fazem por motivos diversos. Até os dias de hoje, os humanos espreitam a irracionalidade, lembrando muitas vezes aquela do homem que sentava a madeira na mulher para corteja-la. E as invenções da modernidade ajudam quanto ao modo de se chegar ao sentimento de “cowboys fora da lei”. Rapaz invade calçada no Rio de Janeiro com seu novo Audi e mata duas velhinhas atropeladas. Rapaz de origem árabe, em Goiânia, mata e esquarteja namorada, colocando os pedaços em sacos de lixo para jogar no rio. Qual a moral existente num ser que pratica tal ato?
O que seria do bom convívio sem a coerção imposta pelo sinaleiro de trânsito, da faixa de pedestre e da fila do banco? O que seria da paz social sem as sanções que faz o criminoso pensar que será punido após o delito?
Não é interessante quando você olha o fotossensor e, automaticamente, tira o pezinho do acelerador? Ele lhe tira do estado natural e instintivo - que lhe fez estar a 100 Km/h numa via urbana - e o coloca no estado de Sociedade Civil - que lhe faz ter a compaixão da suposta vida que possa ser tirada no acidente, jogando uma dose de medo de perder os 'quinhentim' da foto.
Pois então é isto.
O Estado, seja com mão invisível ou competência mais invisível ainda, é como se fosse o parente no maior grau de hierarquia na ato austero do sermão. Cá entre nós, fumantes! A plaquinha que diz “É proibido fumar”, não tem alguma semelhança com a cara fechada de sua mãe, quando ainda adolescente, colocou na boca o primeiro pito?

Marcos Carneiro

8 comentários:

  1. Mais um que gostei muito. Tenho a impressão de que você amadurece a cada texto.

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  3. Caro Marcos...este texto é de grande valia para obtenção do conhecimento sobre o Estado.

    Parabens!

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  4. Meu mano vem amadurecendo cada dia mais com as grandes descobertas da vida...que nem sempre e boazinha...
    Mano Parabens e continue assim melhorando cada dia mais

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  5. Já falei que você escreve MUITO! Parabéns, seus textos estão ótimos!

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  6. Caro amigo,

    Eis algumas observações sobre seu texto. Quando você afirma que “cumprindo os preceitos Morais (sic), que eles mesmos criaram dentro de si, mas não o fazem por motivos diversos” fica a dúvida se são eles quem criaram os ditos preceitos ou se outros criaram e querem que eles sigam.

    Outra observação é que sim, todos os seres humanos “espreitam a irracionalidade”. Não podemos negar o animal que há em nós e a conduta racional é algo que decorre do nosso desenvolvimento intelectual e do nosso amadurecimento e que não é passado para as novas gerações. Cada nova vida é um novo começo na busca pela racionalidade.

    Agora, do mesmo modo que cada indivíduo beira a irracionalidade, por que um conjunto de indivíduos (a sociedade) também não beiraria?

    Os sociólogos atribuem uma vontade à sociedade diferente da vontade de cada um dos indivíduos que a compõe, e este é o objeto de estudo da sociologia. Mas seria esta vontade mais racional do que a vontade de cada um dos indivíduos que a compõe?

    “Mas a sociedade procura se preservar”, diriam os incautos. Não, a sociedade não procura se preservar. Quem procura se preservar são os indivíduos que, por serem sociais, terminam reflexamente preservando a sociedade.

    Está certo que há a questão do Estado, que tenta racionalizar a vida em sociedade por meio do direito e da política. Mas será que atinge satisfatoriamente este objetivo? Me parece que não, uma vez que as pessoas estão historicamente insatisfeitas com seus políticos e que ainda há infinitas mazelas sociais que precisam de correção imediata.

    No seu último parágrafo, você faz uma comparação do Estado com parente de maior hierarquia. Mas não se pode esquecer que parentes, normalmente, procuram preservar seus descendentes. E o estado e a sociedade? Quantas minorias foram esmagadas por eles em nome da nossa falsa racionalidade e segurança?

    Enfim Marcos, embora hajam filósofos que divinizam o Estado, como Hegel, eu vejo no indivíduo o único meio de nos melhorarmos, de nos desenvolvermos economica e culturalmente e de HUMANIZAR o estado e a sociedade. Metaforicamente falando, é daquele animalzinho irracional que devemos extrair o Davi, como fez Michelângelo com a pedra de mármore.

    O Estado é uma fera tão hedionda quanto o mais irracional dos seres humanos.

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  8. Então temos o mesmo ponto de vista quanto ao tema outrora abordado, Africano. E é por isso que tenho mais afinidade por Kant, quanto ao assunto. Todo fim está no homem, seja do meio social ou de indivíduo para indivíduo. A teoria filosofada por Kant deu preceitos estruturais a construção do Princípio da Dignidade Humana. O que não podemos deixar de falar, com os olhos brilhando, é que a "Justiça Geral" (vinda da concepção aristotélica)tende a esquecer a individualização do homem e passar para coletividade.

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