Planeta ou Terra
Não é fácil viver num lugar onde aloquam-se as pessoas em extremos.

A Idade da Razão já passou de suas 510 primaveras e nós, leigos de si mesmos, estamos ainda na mesma indagação perene da razão das divisões. O mundo girou algumas vezes e o Autralopitekus virou Sapiens, perdeu alguns pêlos no corpo e ganhou o atributo da linguagem. E de lá pra cá só falou curcubitáceas. Lá vem a gente novamente falar disto. E porque não acaba com o assunto? Respondo com ar de sabedoria de quem fala curcubitáceas muito bem: porque o próprio é remasterizado o tempo todo. O homem daquela época cutucou com uma vara na parede da caverna, e o outro homem ao seu lado se exaltou com o símbolo rudimentar criado alí. Daí então, partiu-se a história da História - em "Pré-História" e "História", e eventualmente, vem-se partindo tudo, segregando o desenvolvimento dos homens. Pensamos, então, quantas histórias o mundo tem? O mundo é só uma bola - meia murcha, vamos combinar - e uma gama de cientistas políticos desocupados estão lá, na frente dos dados, procurando algum motivo para dividi-lo. Fizeram na Idade Média - aliás, Cruzadas eram 'pra cruzar' algo que se tinha dividido e que estava lá em Jerusalém. Chega na Idade Moderna, um tronco de teoria entra na cabeça do homem europeu. O Renascimento ressucita Grécia e Roma, e com elas ressucitam também as divisões da extensão da cultura: o que é romano prum lado, o que é grego pro outro. Dividiu-se o Católico do protestante, e enquanto um queimava o outro na Inglaterra, se fazia a divisão do Mercantilismo e Liberalismo, do Liberal e do Conservador, do Moderado e do Radical, do escravista e do não escravista, enquanto 80% do mundo não catedrádico estava feliz tendo seus indivíduos cagando na mesma latinha. Na perspectiva da Idade Contemporânea de unir os povos do mundo, pá!, interesses não o deixou, o mundo segrega novamente: ou é Democracia ou não é. Ou é Neocolônia ou é Neometrópole. E a DIT coloca mais um barco entre as águas: ou é produtor ou é comprador. Opa! Eu falei em tentativa de união alí atrás? Quem tentou isto morreu e entrou presta História dividida como difunto lutador - mártir. J.P. Proudhon, em 1930 fala que "a propriedade é um roubo", fundando alí o Mutualismo - que pra sua raiva chamariam posteriormente de Anarquismo -, pregando a união entre os povos. A nata francesa pregou o chumbo nele. E o barbudo do Marx, petulantemente, divide mais uma vez a nossa insana vivência no mundo: Proletário e Dono dos meios de produção. Quando vieram as Guerras Mundiais, é claro que o mundo não se une. Aliás não tem como guerrear contra si mesmo: ou era da Tríplice Aliança ou da Tríplice entente, do Eixo ou dos Aliados. E o degelo da Guerra Fria no mundo lá vem em fincar uma tal de "Cortina de Ferro" na Europa e uma linha imaginária no planeta, criando pólos nesta coucha de retalhos: Socialista ou Capitalista. Ou o mundo via HollyWood ou não via programa nenhum. Assistindo ao noticiário hoje - fui parar no lado onde tem Hollywood, por pressão -, um analista político de aspecto viril e exato - sim, criaram mais uma profissão para nos desviar a atenção prum homem de paletó - e este dizia, alizando a gravata: "...e a divisão do mundo em países pobre e ricos...", tzum! Troquei de canal. Neste outro, Bóris argumentava sobre a " ..reunião do G -15, que acontecerá.." tzum! Novamente subi o canal. Fui parar num programa de auditório, onde uma mulher loira com uma caneta numa mão e microfone na outra - estereótipo de apresentadora sabixona - completava uma frase, exasperadamente tendenciosa: "...guerra dos sexos". E eu grilei , deslingando o astuto objeto. Fui parar no banheiro, onde alí praticaria o ócio universal da higiene e da isonomia. Porque uma coisa é certa: o que une os homens desse planeta, os inserindo sutilmente na condição de terráquios, é a privada! (Excluam a Sandy, claro.)



Marcos Carneiro
Uma dose de espera


Eram cinco e meia da manhã,



...e ela desperta como gato em dia de faxina: 'Bom dia monotonia'. Sim, ela mesma. O parente mais presente da família, e o que mais acolhe sem abraçar, sem dialogar. Chovia lá fora, e chovia dentro de sua consciência. O barulho da água na calha enaltecia a impaciência da branca menina, e como uma ópera misantropa que estuprava seus ouvidos, enquanto suas mãos macias tentavam intervir. O buraco na velha calha de madeira, fazia desta cair no pequeno cômodo escuro, um mal educado pingar perene, como os segundos do relógio. Um, dois, três, mil, a moça contava, mas relutava em perder-se em números, e horas voavam. Em vão, outro barulho emergia de dentro de si, uma voz que a chamava reiteradamente, 'venha, renda-se'. Ao seu lado, o criado mudo segurava as garrafas, duas quebradas e uma no chão. Ao lado destas, uma faca suja de vinho, líquido que desceu, junto à saliva nas gargantas de dois cúmplices do crime que virá a acontecer. A bola branca que encobrira todo o leito do quarto já se fantasiava de amarelo-pardo há alguns minutos, banhando, com seu espectro fantasioso de cores múltiplas, o tenro lençol que antes era dinâmico nos tempos da dupla silenciosa de macho e fêmea. Hoje, em capela murmurante, o lençol é uma estufa, onde entra a moça branca, o tempo, e as lembranças do dia, e sai um inseto após a ecdise fantástica da madrugada. Ela pensa ' a madrugada é a tela insalobra que revela aquilo que o dia escondeu', e escondeu muito, o tudo, o nada, o quase. Então vem a espera, a ovelha negra da família do tempo. A adolescente parada na inércia da austeridade do pai normalista. E a espera sim, é angustiante, naturalmente. Não fomos feitos pra esperar, pois esperar é parar encima de uma esteira, esquivando-se de ir em frente e dando passadas para retaguarda. Ela não é consumida, ela te consome. Ela te come, roe por dentro, deixando por lá a lacuna sedenta de ser preenchida por outra espera. No estampido oco de uma lembrança opaca, a moça remoe dentro de si a lembrança do passado entre sorrisos e toques, gestos e expectativas de futuro. Promessas e a pressa, que entre os goles de incerteza, se erguiam os alicerces da futura saudade. Saudade, este ciúme que se tem do passado interminável. Os olhos verdes da moça, agora fitavam o telefone. O mesmo que antes tocava como música clássica em tempos de felicidade. A chuva pára por um momento, como se esperasse algo acontecer, algum zumbido soar em algum lugar, como se esperasse uma passagem inédita para voltar á molhar o pasto. Ela olha para o teto, estirando-se por completo na cama, a mesma que na noite passada dois corpos de entrelaçavam, formando apenas um, um que entendia a si mesmo e seus anseios de moça rebelde, desbravadora de dois mundos. Imagina o teto como uma membrana celular, e ela, nadando naquele ectoplasma que lhe prendia com força, gritava 'este é meu lugar!' E gritava mais alto agora, e mais alto na segunda vez, agora apenas sussurrava, murmurava, chegou apenas a gemer os quatro vocábulos ao som dos pingos da última leva de água presa á calha: plic, plic, plic, plic,... triiiiiiim! O telefone toca. Nesse momento, a moça branca acorda de si mesma, e calmamente retira-se de dentro da célula que se imaginava estar em seu interior. O epitélio caucasiano se dobra petulantemente por toda a extensão de seu corpo. Fica atenta a penugem de um pescoço que antes era só calmaria entre beijos e unhas, unhas que tocavam furavam, a rasgavam, burlando com o próprio concentimento da alma feminina. Novamente grita o telefone com seu gemido estridente, lhe pedindo para ser violado, lhe pedindo para sentir seu plástico sintético que escondia algo do outro lado, lhe pedindo para acabar agora com a espera. Agora! E as mãos da moça iam na cabeça, nos lábios, nos seios, no lençol, na camisola entre marcas vermelhas da noite passada, da noite alcólica que lhe mostrou a certeza que sempre há de vir: 'tudo há de se acabar um dia'. E suas mãos, agora mais rápidas, e violentas, retratavam arduamente, o doce espelhar da máquina do instinto animal, e elas se batiam, não se reconheciam, na madeira, no cetim, nos dentes agora a cravar o travesseiro onde repousou as carícias do belo moço. Toca mais uma vez, o escárnio objeto ao seu lado, e junto á ela, toca a certeza de que não há mais para onde ir, 'não há', pensa alto a moça. Antes que tocasse a terceira chamada, a mão esquerda toma a decisão por um sutil golpe de misericórdia à si mesma, a mão que agora leva o telefone ao seu colo sujo de vinho tinto, a mão que acolhe o objeto como o seu mais novo amor, como o teu primeiro e ultimo amor, e esta agora escora a massa plástica engordurada no pescoço, e de longe se ouve um voz que lhe diz em alto tom: 'sou eu'. Morde o objeto, como se quizesse se alimentar de tal situação, ou da barítona voz que se emerge de tal invenção humana. A bola que se fazia branca, é todo um corpo vermelho redondo que se estende pela varanda, e atingindo as arestas de todo o quarto, sem deixar sombras e penumbras, ilumina o gume litigioso do punhal encima do creado. Os olhos miram o objeto que reluz com uma sinceridade misturada á sede de toque, que as mãos macias da moça mata ao pegá-lo com vontade, enquanto o telefone é erguido aos ouvidos. O vento, doravante, sem licenças, entra pela porta, ironicamente lhe trazendo todo o ar que esbrajadamente entra por toda a sua boca, preenchedo seu pulmão por completo, enquanto a faca massagea o busto que antes era tocado por lábios alheios, mas não alheios à sua vontade. A ponta do objeto, maliciosa que é, faz o mucocilial se abrir como o mar se abre ao rio, entrando com força, mas com sutileza. A voz que fala ao fundo perde o valor que tinha, e em imensa dor da pressão que faz a ponta afiada na angústia da moça, faz cair o objeto que à pouco fitava e amava com gosto. A outra mão, deitada no colchão macio, se estende e se junta à outra, onde no cabo de madeira se faz ir ao pescoço, correndo salutante entre as dobras suadas, fruto de sua pior estação do ano. Passa, portanto, a cantar com gemido, a música de uma alma saindo da carcaça onde habitou desde a fulcro de infância, de moça pura e destemida. O corpo treme, a os pés balançam, dobram, levantam, páram. O gemido se torna um grito agudo, sem traquéia, linguagem para o mundo ouvir e se deliciar. E o grito vira voz, que vira vibrado, que se ergue e responde á quem quer ouvir: 'eu me rendo'. Ao gosto de vento e sangue, suas mãos cravam o objeto no pescoço com vontade, e seus olhos se abrem, mas os da mente se fecham, na lembrança de um sorriso masculino, a pedra persuasiva que lhe acabara de enganar. Vira a cabeça para a janela, fitando a bola que se desfaz na claridade, e gradualmente se faz amarela, vermelha, marrom,...e impossível.



Marcos Carneiro


Poderia ter vindo em prosa, mas hoje ensejo versos assimétricos.

Unha, Pele e Coração


Olhos desatentos além do vidro embaçado,
e atado um nó fica, na estrada do viver.
Ao som da borracha nas águas das ruas,
seguindo o cinza da senda , tal qual molhada existe como
as coxas suas, dos meus lábios a correr.


E estas luzes verde-intocáveis, que
nas quais uma porta se abre à imensidão incoerente de negar minha aceitação.
O que mais esconde os gestos capciosos e o fazer teatro-real
da tenacidade entre unha e pele?


Contando dias em cores, nas tardes cinzentas,
que no amarelar do olhar a tristeza fomenta,
dando a seguinte indagação:
Sendo criança, homem ou mulher, qual o produto
do abstrato ofício de se dedicar à paixão?


Hormônios que dançam e furam,
o retículo cristalino da formalidade,
e na flor de espinho na meia-idade,
uma fábrica incessante o produz.


Neste ato viril de correr ante a corrente,
do que não começou, do que nem existiu,
há uma ponta da sinceridade, que em várias
línguas se traduziu, mas só em duas se entendeu.


Enquanto corto meus dedos gelados na tua quente nuca,
o maxilar no teu costado reluta,
à separar de tua alva cova alegre.
Se faz mais rápido tudo agora,
entre sorrisos, um beijo de cálcio que ignora,
um pedido algoz para que me leve.


De tantas vozes, as do silêncio mais alto falam,
e no banco de um carro minhas costas resvalam,
buscando as mãos que primeiro, com vontade, as tocou.

Meus olhos abertos, os teus fechados buscou,
e na minha saliva um pedido inédito soou:
continue a me espreitar, Linda, até eu descobrir
quem verdadeiramente, de você, eu sou.


Marcos Carneiro



Dia da Consciência Negra

Um dia para todas as raças irem ao parque, assim como os ateus no Natal comem peru




Está bem, leitor. Já sei que você está com a vontade jorrante de sair desta página, após ter visto o título e a lide deste artigo. Falar de consciência é como falar de Metafísica Kantiana: "A essência é do ser para si mesmo." Mas façamos uma forcinha. Este grifo se mostrará mais solidificado nas linhas abaixo. No dia 20 de novembro, 435 municípios decretarão pausa administrativa e fechamento do comércio para lembrar da morte de Zumbi dos Palmares - o maior símbolo da raça negra neste país, por ter criado o maior quilombo de resistência escravista, em Alagoas - em 1695, símbolo escolhido para representar a convenção. Antes, 13 de maio era a data na qual se comemorava, e esta data remete ao 13 de maio de 1888, quando Isabel Cristina Leopoldina Augusta Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon (pausa para respirar), ou apenas princesa Isabel, decretou a Lei Áurea que determinava a abolição da escravatura. Os presságios que nos interessam, a priori, vai bem mais além da substituição da simbologia de cada data histórica, e sim na alma do dia comemorativo. Se o debate não é de suma importância à cabeça dos homens, pelo menos a integramos no ato de argumentar em vão, pra passar o tempo. Quando pensamos em consciência negra, logo nos vem à cabeça a destruição de apologia ao racismo, o preconceito racial. Partindo da premissa de que há uma dualidade no pensamento em que se inclui a consciência negra, chegamos a nos deparar com a grande dúvida: a consciência negra é algo voltada para os negros ou para outras raças, as quais nem aí estão para a disparidade da imagem racial ? A mídia divulga e o interlocutor assimila que a data servirá para debater sobre a comunidade negra, e as mudanças do Estado para ser flexível a uma futura e crescente adaptação de uma comunidade multirracional. É claro que, quando estamos afogados no rio insalobro da dúvida que integra a atualidade, recorremos à História, e neste caso, não temos como fugir deste mecanismo, pois temos de inserir símbolos dela. Será que estou enganado, ou estamos retardando no tempo para 13 de maio de 1888, a data que foi abdicada para representar a comunidade? Hipótese apenas, mas continuemos o fio lineável que já começei a desenrolar. A princesa regente foi totalmente criticada por fazer um decreto que, além de abolir outro decreto (Lei do Ventre Livre), amparava a liberdade de humanos sublevados, de maneira parcial. O Estado que ela administrava deixou a leva infindável de ex-escravos se tornarem mais sublevados ainda, marginais por incompetência estatal - e perceba como podemos já ligar presente e futuro, fazendo paralelismo obrigatório da marginalidade do negro, ainda incrustrada na existência de proporcionalidade fútil: a cada 10 penitenciários, 6 são negros. Então, quando vamos observar simbologia histórica, contra a comunidade negra e o fim para qual nasceu, os livros didáticos pressionam-na contra a lembrança da qual não precisam lembrar atualmente, pois não houve: que os brancos tiveram compaixão dos negros escravos. Lembrar do 13 de maio, é lembrar que uma grande mudança se fez num cenário onde tinha como fantoches os negros escravos, e que toda a peça se fez com dois diretores: o europeu e seu filho de pele cabocla. Jogamos então para atualidade mistificada. O negro assumiu a ponta-de-lança de criar para sua imagem de importância histórica, o seu dia, além de ser numa data mais simbólica e conveniente para tal. Mas o que tem de importância em si ? O que na cabeça das pessoas muda com o espaço que se tem hoje para lembrar da desgraça do escravismo ? Não que não seja importante para alguns, meus caros. O blogueiro aqui não é tão petulante para falar da legitimidade de tal expressividade social. Apenas jogo hipóteses de argumentação. Agora, voltando à dificuldade de falar sobre consciência, que tal sairmos da penitente Metafísica Kantiana e partirmos para Dialética Hegeliana (Tese, Antítese e Síntese), a qual é bem mais coadunável com os rumos que se tem de tomar o assunto? Que tal Barack Obama como exemplo? Está bem, novamente. Você quiz apertar o X vermelho no canto da tela quando disse de Dialética Hegeliana, e depois apertou quando falei sobre Barack Obama. Mas precisamos concluir este litígio. Partindo do fato de que o mundo se densenvolve em relação à vivências anteriores (Antítese), para concertar erros do passado (Tese) e constuir um mundo melhor no futuro (Síntese), considero o presidente da nação mais democrática do mundo, e uma das mais racistas - EUA - um sujeito que venceu a inércia do comodismo racial. Isto é a consciência negra: é fazer-se igual ao outro, sem esculachos midiáticos. Uma isonomia sincera (e isto é pleonasmo)

No dia 20 de novembro de 2009, milhares de pessoas irão às ruas ver as festividades culturais em várias capitais, onde irão lembrar de um dia em que a história se construiu já escrita para ser contada no futuro. E alguns sairão pra ver estas, ou irão para festas beber, assim como a princesa fez em 1888, quando se concretizou um erro de estratégia ou assim como os portugueses fizeram quando apunhalaram Zumbi pelas costas e disseram: "vamos tomar um Run agora, capataz. Cumpriste vossa missão."

Marcos Carneiro



Olhos do Estado
Nosso dia-a-dia mira no século XXI e acerta em antes de Cristo


Desde o início do desenvolvimento dos homens – e aceito a tese de que fomos muito lentos, “levando muito tempo para se desgastar um quadrado que futuramente se chamaria de Roda” -, as relações mundanas passaram por picos de decisões instintivas e vales escuros de irracionalidade, a qual sem os preceitos da dignidade social e humana, humanidade se confundia com selvageria - cortejava-se a mulher com paulada na cabeça, dizem. Então precisou-se inventar mecanismos que fizessem os indivíduos ‘andarem na linha’, quer dizer, seguirem princípios que levassem ao bem comum. A Moral foi o primeiro deles, brotando sincera na necessidade de quem tinha bom censo, e sendo colocada a força na cabeça dos imorais. No começo da história – e consideram que a passagem de Pré para História se deu com o advento da escrita -, grupos de indivíduos passaram a viver juntos e em um lugar fixo.
Deixando o nomadismo então, e vivendo sedentários onde se encontravam muitos semelhantes seus, onde cada um tinha seus interesses, haviam aqueles que interessavam nos interesses do outro. Do outro lado da pirâmide social, o governante, que observando os desgastes entre os interesses de seus concidadãos, necessitava de algo que fizesse delimitar o mérito de cada um para cada situação e coibisse aquele que não respeitasse esta convenção. Nasce então o Direito, que em livros de história, é bem ilustrada como legado de Roma – como se antes, num Egito qualquer, não fosse preciso normas para fazer a justiça se propagar pela sociedade. Aí é que está o ponto onde o blogueiro quer chegar, e chegou às duras penas, mediante este fio lineável quase maçante: a guarda do Estado, mediante monopólio da autenticidade, para que os indivíduos fizessem sua parte, cumprindo os preceitos Morais, que eles mesmos criaram dentro de si, mas não o fazem por motivos diversos. Até os dias de hoje, os humanos espreitam a irracionalidade, lembrando muitas vezes aquela do homem que sentava a madeira na mulher para corteja-la. E as invenções da modernidade ajudam quanto ao modo de se chegar ao sentimento de “cowboys fora da lei”. Rapaz invade calçada no Rio de Janeiro com seu novo Audi e mata duas velhinhas atropeladas. Rapaz de origem árabe, em Goiânia, mata e esquarteja namorada, colocando os pedaços em sacos de lixo para jogar no rio. Qual a moral existente num ser que pratica tal ato?
O que seria do bom convívio sem a coerção imposta pelo sinaleiro de trânsito, da faixa de pedestre e da fila do banco? O que seria da paz social sem as sanções que faz o criminoso pensar que será punido após o delito?
Não é interessante quando você olha o fotossensor e, automaticamente, tira o pezinho do acelerador? Ele lhe tira do estado natural e instintivo - que lhe fez estar a 100 Km/h numa via urbana - e o coloca no estado de Sociedade Civil - que lhe faz ter a compaixão da suposta vida que possa ser tirada no acidente, jogando uma dose de medo de perder os 'quinhentim' da foto.
Pois então é isto.
O Estado, seja com mão invisível ou competência mais invisível ainda, é como se fosse o parente no maior grau de hierarquia na ato austero do sermão. Cá entre nós, fumantes! A plaquinha que diz “É proibido fumar”, não tem alguma semelhança com a cara fechada de sua mãe, quando ainda adolescente, colocou na boca o primeiro pito?

Marcos Carneiro
Cinema, história e construção do pensamento humano.

Já perceberam como o cinema narra de forma minusciosa o que pretendemos viver, de uma forma genérica? Já perceberam a quantidade relevante da construção das relações cotidianas? Desde a concepção da epigênese do cinema, que tomem como base os irmãos Lumiére, lá em 1895 - o chamado cine Eden, no sudeste da França, quando foi apresentada a primeira película a ser mostrada por um refletor, em um local onde se pagava pra entrar e ver o que alí, na tela arcaica, se mostrava -, o cinema foi um elemento persuasivo nas mentes e nos anseios humanos. Um século XIX, onde acabara de descobrir o advento da energia elétrica, e então, as pessoas poderiam fazer o que nunca antes fizeram: descobrir o lado noturno da cidade. Paris, a cidade da luzes, na qual lotada ficavam suas vias para vislumbrar a chuva luminosa que a modernidade inventara. O advento da fotografia veio como a quebra das grades do entrenimento das famílias européias antes mesmo de uma tv: poderam imortalizar, de forma insalobra, o que iria cair no esquecimento. Porém, a fotografia era estática, no tocante aos movimentos e aos sentimentos da imagem. Veio o cinema para alavancar o que iria ser chamado de Drama de película. A realidade seria mostrada em movimento. As ruas de Paris ficariam muito mais cheias de gente, onde se faziam filas para ver a primeira mulher beijando um homem em público, e de uma forma apaixonante, faziam as pessoas que naquela sala entravam, sairem chorando ou esbravejando rumores de algo. Algo a ser imitado no cotidiano. Sim, não podemos negar. A felicidade teve fisionomia com o advento desta peripécia: ser feliz é sorrir, conquistar algo numa vida previamente não estabelecidade nas regras sociais (Laranja Mecânica) - observe como queremos cometer pecados sem sofrer o castigo -, contar o que ocorreu em sua passagem de vida (Forest Gump) - , em um lugar lindo, onde não há barreiras que o impessam (Amor sem fronteiras). O editor faz questão de colocar esse sonho mundano em seus personagens. A tristeza também construiu seu rosto, na esteira da realidade de uma parcela de desamparados: Charles Chaplin mostraria então, como o interior das fábricas era desumano. Como as relações que Karl Marx pregava em seu tabernáculo seriam agora, bem melhor entendidas: "a imagem diz mais que mil palavras". Além de contar história, aos modos do narrador, o cinema construiu um pensamento enraízado até os dias do nosso presente, quando saímos da sala escura como se saíssemos do útero da mãe, e nos 10 minutos seguintes, como se nascesse naquele momento. A primeira vez em que foi narrado o amor de duas pessoas na telona - com o beijo na rua ou um símbolo de irreverência em ver um homem cantando na chuva de paletó e gravata, tem o mesmo teor, características de telona de hoje, multimídia, a cores, 3D, quando vimos Tom Cruise correr na Time Square vazia (!), em Nova York, ao som de Radiohead. A destruição do inevitável e a construção do "sempre é possível". A liberdade existe na telona e sonhamos com a gente dentro dela. O europeu que saiu da sala em 1895, saiu com a cara de espilfarro do garoto que em 2009, viu o desenho animado lhe dando lições de moral. Pois o cinema nasceu para isto, além do pretexto do entretenimento e comércio belepocano.
Marcos Carneiro
O que o Orkut tem a ver com o século XIX ?


Nas aulas de Filosofia pelas quais participei, indagávamos muito sobre o papel dos filófosos da atualidade, sempre levando pra uma ótica relacionada ao desenvolvimento material da humanidade, apesar de não ser tema filosófico clássico. Deixa eu ver por onde eu começo. O existencialismo é um sentimento humano depreciativo que se tornou intrínseco aos homens da época posterior à Belle Epoque, você deve ter estudado história. Depois da riqueza material daquela época e consequentemente o enriquecimento do egocentrismo europeu, o cidadão do mundo passou a pensar que ele detinha da felicidade absoluta, proporcionado pela riqueza material. Porém aparece um homem chamado Sigmund Freud, e publica sua obra tentando, com eficácia pra época, tirar o homem do centro da consciência mundial. Com reflexos disto, os homens passam a interpretar sua vida e o que mais importante é para ela. Quando chega a

I Guerra Mundial, a decadência começa a surtir efeitos, quando os cidadãos europeus veem sua tecnologia que construía pub´s, torres, estradas, trens, boulevares, Ford´s T, etc, agora era usado para matar pessoas. Então, o enriquecimento material, o único remédio para a solidão do homem naquela época, perde valor. No século XX inteiro, vimos como o homem perdeu sua identidade com as mazelas feitas por ele. Em 1921, André Breton - já te falei dele eu acho - diz que o homem ainda tem mais dúvidas do que certezas na vida, e isto, o deixa um animal selvagem, agindo por instinto. O existencialismo é exatamente cabível nessa conjuntura, onde as pessoas começam a divagar sobre o seu papel no mundo e descobrem que pouca diferença fazem, partindo então para a idealização do seu ser. Pra quê exemplo melhor do que o Orkut para falar da crise de identidade, onde nós temos espaço para colocar nossa figura idealizada.


Marcos Carneiro, sendo obrigado a divagar pra Anna Olívia algo sobre Existencialismo
.




Sobre a Amizade.


Sempre pensei que amizade fosse um escudo
abstrato que nos defendia da ruína social: ter amigos era ter votos.
Mas pensei direito. Não é só isso.
Aristóteles, arquetipizando a estética siamesa, já dizia naqueles
tempos remotos da Grécia filósofa, se indagando quem eram aqueles que lutavam por outros homens nas guerras Médicas:

" O que é um amigo?"

(E depois dando a resposta inesperada) :
"O único habitante de dois corpos."
A amizade está impregnada no sangue de quem a tem.
No brilho inédito do olhar daquele pedinte faminto.
No responder sem peguntar e no acolher sem abraçar.
Amizade está além do documento, do papel passado, da burocracia de se ter um amigo.
Ela está na natureza, do homem e do animal.
Um mutualismo eterno entre aqueles que se perdem no mundo, na impureza das coisas,
na coisificação do homem e humanização da coisa.
Está no poste em que o ébrio se encosta. Está no bem em que o pródigo adquire.
É tocar na ferida e se reconhecer. É usar o íntimo.
Ter amigo é ter um mapa. Um dicionário. Uma lupa e um sol nas mãos.
Quer dizer, é se achar em um lugar, responder todas as perguntas,
é olhar tudo de perto, queimando tudo o que vem pela frente.



Marcos Carneiro
Divagando sobre o saber.


Conhecimento é líquido, em sua forma mais bruta de estado.Flexível que é, tapando os buracos da dúvida. Quebrando o retículo cristalino da nulidade intelectual. Um saber qualquer não é lá tão escorrido no fio molhado em que o senso comum passa jorrando algo insólito: sofismo comedido.Desde a Grécia Clássica, estamos aí, do mesmo modo e com a mesma interrogação estampada na cara, no olhar que cerca o rio de cientificismo que encontra nosso barco.Dizem os hábitos - conhecimento popular - que nadar faz crescer.O quê?Nadar neste rio chamado curiosidade faz crescer a vontade de estar molhado em suas águas, onde quanto mais fica, mais sua seca é alimentada: a seca se renova no bruto descascar das doutrinas insalobras, no tronco pontudo da imparcialidade. Para qual função nasceu o homem há um tempo atrás, senão foi para fazer perguntas?O conhecimento existe, pois voa por aí, caçando um porto onde enguiçar.

Marcos Carneiro
Espelhos

Uma imagem seca, morta de movimento
Suspeitam problemas estruturais
Que neste espelho sujo e sedento.
Se indagam, nós, pobres mortais.

Neste interrogatório se queixam
Certos sorrisos falsos que já não agüentam mais
Esperar para virar gritos que ensejam
Certos beijos não dados em tempos para trás

Negam a existência do corpo e da mente
Certos espelhos que cortam a velha semente,
Da qual brotam as expressões faciais

Concordam com eles certa ruga de testa atenta
Que de uma ordem austera o tempo alimenta
Secando a alegria dos passeios matinais

Marcos Carneiro
Publicidade - Asas da criatividade

Uma criação de publicitários da Terra com nome de “Seja o segundo a saber” . As peças mostram que ser o segundo a saber das coisas, pode ser muito importante. Quer dizer, fotografos "roubam" a imagem de cochicho de personalidades e divulgam como uma maneira a nos instigar ao desenvolgimento de uma curiosidade. A Publicidade em geral usa essa artemanha para nos pegar pelo curioso.

A criação de Adriano Matos, Marcelo Reis e Rodrigo Tortima, ícones da Comunicação Social neste país.











Fotografias de Latin Stock e Associated Press.
Um tropeço

Caminhando na senda da vida,
O poeta encontrou uma esquina;
E tendo de escolher qual será a partida,
Partiu na calçada da pedra mais finda.

Tropeçando numa das lindas pedras,
Caiu no colo da branca moça esbelta
A qual, sentido calor em suas pernas
Queria um abano em suas cerdas.

Depois de muito abano do homem cortêz,
A moça só, grata convidou pra um café
O moço, já branco de palidêz,
Aceitou, em tremor da cabeça ao pé .

Uma, duas, três, quatro horas na salinha,
Vizinhos murmuravam em seus portões:
O moço deve morrer naquela casinha !
Embebedado de café ou de molhadas emoções.

Marcos Carneiro
Voltando ao século passado...
Mário de Andrade
sobre o gênero Crônica:
" Nunca fiz dela uma arma de vida, e quando o fiz, frequentemente mal ou errado. No meio da minha literatura, sempre tão intencional, a crônica era um sueto, válvula verdadeira onde eu me desfatigava de mim. Também é certo que jamáis lhe dei maior interesse que o momente em breve em que, com ela, eu brincava de escrever."

(Imagem: Quadro pintado por Tarsila do Amaral em 1923, quando de uma admiração esplêndida, o deu de presente ao querido escritor)

Literatura de bolso juvenil:


"Eu pensava que máscara não era produto de pecado, proteção degenerativa. É que o costume de viver com elogios por todo lado acostuma a não se aceitar os defeitos naturais. Ser ridículo às vezes é necessidadede, mostrar que a perfeição é toda perfurada pelo fato de nós não sermos tão normais. A timidez era arma para não falar de simples modo. Foi quando eu conheci uma pessoa que ao invés defalar bonito, prefere falar com cunhos originais. Ela sem querer envergonhar os modelos de beleza que têm a frieza de conviver com as coisas não profissionais."





Fábio Campos Coelho, estudante de administração da UFG
E por falar em cotidiano....

A normalidade que quebra transições

Neste nosso dia a dia, somos pássaros vivendo presos em gaiolas, digo. Suas grades nós mesmos contruímos como o passar do tempo - novamente o tempo como cúmplice - e chamamos de hábitos. Algemas do conforto, tão enérgico e persuasivo. O que acontece: ficamos praticamente obsecados em vivê-los e, consequentemente não dando ênfase ás suas mudanças e nem descobrindo modos de melhorá-las. Aprofunda-se, portanto, aquela inércia tão aconchegadora, a qual é a parasita de todos os humanos, precinto. Está aí a resitência à mudança.
Nós, cidadãos do planeta terra - portanto todos iguais perante todas as regras mundanas -, acostumamos no passar dos dias-feiras a praticar uma série de afazeres que, por algum motivo ainda em estudo, não conseguimos dominá-los - digo controlá-los quando dá na cabeça. Uma prática diária, a qual já conhecemos seus resultados nos convém muito mais do que outra não conhecedora do que será. Novos caminhos, nem pensar. Isto é fatal: despercebido à olhos desatentos.
Dar preferência a um programa de TV - todos tem sua queiridinha-, a lugares para frequentar, a pessoas com quem bater um dedo de prosa e se relacionar enfim, são micro-estruturas do nosso modo de viver. De uma proposta sem plano anterior : somos peneras de relacionamentos conosco e com nossas funções. Acomodados, então, na onda da mesmice, começamos a fazer aquilo que foi ensaiado e pronto, a vida está assim: um teatro.
Torna-se relevante sairmos de cima do "muro" -no bom siginificado-, algo que será muito desconfortável e rude conosco, pois são práticas empregnadas em nós. Isto será preciso para que possamos nos livertar das amarras da rotina e nos tornarmos pessoas livres de nós mesmos e não em gaiolas. Somos muito mais pássaros quando voamos por nossas causas.
Marcos Carneiro




" Como esperar esquecimentos,
se o sêmen, inda quente, pede passagem?
Luiz de Aquino. Grande amigo dos Tios Gomes Carneiro, contista, poeta, cronista de Goiás - orgulho de nosso estado. Membro da Academia Goiana de Letras, une brilhantismo e simplicidade em suas obras.
( texto retirado de "Razões da Semente")

As sem razões do amor
"Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no elipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor."
Drummond, com um didatismo coeso e cabível sobre a vida amorosa.
(O poema foi colocado em estrutura linear, forma preferida deste blogueiro)
Muito mais isto do que isso.

Sou assim, daquele jeito.
Muito menos do que mais.
Mais acento do que caminho. Mais agudo que tônico.
Mais sorriso que envergadura. Mais branco que amarelo.
Mais presença que porta-retrato. Menos foto do que biografia.
Muito mais voz que silêncio. Mais zunido do que gemido.
Mais tiro do que queda. Mais chão do que cimento.
Mais porta que janela. Mais natureza que desnaturado.
Mais motivo do que desculpa. Mais choro do que lamúria.
Mais em prosa do que em verso.
Apesar de mais objetivo do que vírgula.
Sou mais árvore do que parede. Mais foto do que síntese.
Menos dicionário que enciclopédia.
Sou mais pele do que mucosa. Apesar de mais nariz.
Mais feio que bonito. Só que mais amigo do que cliente.
Sou mais livro do que lembrete. Mais romântico do que sei.
Mais áspero do que liso. Mais reticências do que ponto...
Ainda mais magro do que o normal.
Apesar de mais peso do que altura.
Muito mais mão do que pé. Apesar de mais chulé que piolho.
Sou mais viver do que velório. Mais chorinho do que marchinha.
Sou mais bolso do que carteira. Mais chave do que cadeado.
Mais ritmo do que passada. Mas cadeira que salão.
Ainda menos amor do que paixão.
Mais telefonema do que carta. Mais sujeito que objeto.
Muito mais em terceira pessoa do que primeira.
Muito menos pessoa do que alguns.
Sou mais folhetim do que classificados.
Apesar de mais propaganda do que o fofoca.
Mais animal do que pedra. Mais árvore do que parede.
Muito mais madrugada do que ensolação.
Apesar de ser mais lagarto do que morcego.
Sou muito mais saudade do que velhice.
Mais olhar do que flerte. Mais explicação do que cantada.
Mais casa do que casado. Mais varanda do que garagem.
Apesar de mais motorista do que passageiro.
Mais extrangeiro do que do que daqui. Mais beijo que abraço.
Bem mais lança do que perfume. Mais cheiro do que fungada.
Mais ar que oxigênio. Mais rodoviária do que aeroporto.
Apesar de mais pneu do que nuvem.
Sou eu.
Bem mais isto do que isto.

Marcos Carneiro, arrajando mais alegorias na tentativa de descrição.


Deu na veneta falar de amizade.


" O que é um amigo? Único habitante de dois corpos. "

Aristóteles, se lembrando que na Grécia Clássica, perder um amigo era se perder-se também.

  • Na imagem: Eu, meu irmão Thiago e a Karol no século XX e XXI, diferença sutil.
" Quantos amores perdidos por causa de palavras
engasgadas na garganta. Coisas que só podem ser
ditas se deitadas no papel. E ainda quando
escrever cartas está tão fora de moda. "

Marcos Carneiro, se lamuriando
" Se não tiveres tempo te sobrando,
para espediçar como minha cantiga,
guarde o livro na estante, para quando
contares a teus netos, coisa antiga."

José de Godoy, esquivando-se do possível insucesso de seus versos.
"Hoje não é um dia qualquer. Aliás, é único. Apesar de não ser diferente de ontem.
O presente é algo de existência frágil, digo. O futuro não. Ele é cogitado e falado.
Faz-se suposições. Enquanto isso, o presente rola e desagua sobre o rio do tempo.
Se um rio não é o mesmo porque nele passa diferentes águas todo segundo, o tempo também
o é, já que os minutos não são os mesmos. O que somos então?
Meros peixes observando tudo isto passar."

Marcos Carneiro, fazendo alegorias de rio-tempo, assim como o Cabral de Melo Neto.

..E me dou
Um riso que cativa, a voz
de me chamar pra perto
( e eu vou).
A seda da fala mansa
e o sorriso de embalar ternura
(e eu faço).
...

Luiz de Aquino
(imagem: Fábio Lima)