Poderia ter vindo em prosa, mas hoje ensejo versos assimétricos.

Unha, Pele e Coração


Olhos desatentos além do vidro embaçado,
e atado um nó fica, na estrada do viver.
Ao som da borracha nas águas das ruas,
seguindo o cinza da senda , tal qual molhada existe como
as coxas suas, dos meus lábios a correr.


E estas luzes verde-intocáveis, que
nas quais uma porta se abre à imensidão incoerente de negar minha aceitação.
O que mais esconde os gestos capciosos e o fazer teatro-real
da tenacidade entre unha e pele?


Contando dias em cores, nas tardes cinzentas,
que no amarelar do olhar a tristeza fomenta,
dando a seguinte indagação:
Sendo criança, homem ou mulher, qual o produto
do abstrato ofício de se dedicar à paixão?


Hormônios que dançam e furam,
o retículo cristalino da formalidade,
e na flor de espinho na meia-idade,
uma fábrica incessante o produz.


Neste ato viril de correr ante a corrente,
do que não começou, do que nem existiu,
há uma ponta da sinceridade, que em várias
línguas se traduziu, mas só em duas se entendeu.


Enquanto corto meus dedos gelados na tua quente nuca,
o maxilar no teu costado reluta,
à separar de tua alva cova alegre.
Se faz mais rápido tudo agora,
entre sorrisos, um beijo de cálcio que ignora,
um pedido algoz para que me leve.


De tantas vozes, as do silêncio mais alto falam,
e no banco de um carro minhas costas resvalam,
buscando as mãos que primeiro, com vontade, as tocou.

Meus olhos abertos, os teus fechados buscou,
e na minha saliva um pedido inédito soou:
continue a me espreitar, Linda, até eu descobrir
quem verdadeiramente, de você, eu sou.


Marcos Carneiro



2 comentários:

  1. Aí, agora o peixe está na água! Enfim, descobrindo o ultra-romantismo. Te recomendo Byron, se ainda não leu.

    Abraços!

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  2. Na verdade, Edgar, descobri há tempos. Praticava muito mais em tempos remotos no cancro duro da puberdade. Agora, sou mais realista. Romantismo dever ser pensado.
    Abraço à ti, cunhado.

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