Eu queria segredo quanto ao nosso amor.
Mas quem me vê na rua sabe. 
O cara de baixa estatura na esquina sabe. O guarda do colégio ali pertinho sabe. A vizinha varrendo a garagem sabe e o varredor da rua também. A moça que entrega o pão sabe. O motorista do ônibus, me olha só uma vez, mas sabe. O porteiro da faculdade sabe, assim como a vendedora de água de côco também sabe. Seis professores sabem, dois monitores também. A rapaz que recarrega carteirinha sabe e, enquanto eu passeio pela grama até minha casa, estão sabendo. Meu chefe sabe, e o entrevistador de emprego também. Talvez a grama saiba, de tanto meu pé choraminga-la. Mil e quinhentos e sessenta e dois amigos de facebook sabem. Dois grandes amigos - um deles morto - também sabem. Nos shows, as mãos levantadas ante a iluminação branca, sabem. Os grafites sabem. Os rebocos, entrecortando árvores semi-tortuosas, muito bem sabem. A lua sabe tanto, que se esconde alguns dias para eu não reclamá-la. Céus azuis sabem, a poeira nos móveis esconde, mas sabe. Sabem cada uma das estrelas que aponto quando quero te procurar, em meio a clarões que piscam - olhares silenciosos incomunicáveis. As músicas de variados estilos e timbres sabem, e me lembram. A varanda suja sabe, o jardim descuidado sabe. O colchão no corredor sabe. A lata de pêssego jogada no rio sabe e sente-se triste por ser levada pela correnteza desconhecida. 





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