E por falar em cotidiano....

A normalidade que quebra transições

Neste nosso dia a dia, somos pássaros vivendo presos em gaiolas, digo. Suas grades nós mesmos contruímos como o passar do tempo - novamente o tempo como cúmplice - e chamamos de hábitos. Algemas do conforto, tão enérgico e persuasivo. O que acontece: ficamos praticamente obsecados em vivê-los e, consequentemente não dando ênfase ás suas mudanças e nem descobrindo modos de melhorá-las. Aprofunda-se, portanto, aquela inércia tão aconchegadora, a qual é a parasita de todos os humanos, precinto. Está aí a resitência à mudança.
Nós, cidadãos do planeta terra - portanto todos iguais perante todas as regras mundanas -, acostumamos no passar dos dias-feiras a praticar uma série de afazeres que, por algum motivo ainda em estudo, não conseguimos dominá-los - digo controlá-los quando dá na cabeça. Uma prática diária, a qual já conhecemos seus resultados nos convém muito mais do que outra não conhecedora do que será. Novos caminhos, nem pensar. Isto é fatal: despercebido à olhos desatentos.
Dar preferência a um programa de TV - todos tem sua queiridinha-, a lugares para frequentar, a pessoas com quem bater um dedo de prosa e se relacionar enfim, são micro-estruturas do nosso modo de viver. De uma proposta sem plano anterior : somos peneras de relacionamentos conosco e com nossas funções. Acomodados, então, na onda da mesmice, começamos a fazer aquilo que foi ensaiado e pronto, a vida está assim: um teatro.
Torna-se relevante sairmos de cima do "muro" -no bom siginificado-, algo que será muito desconfortável e rude conosco, pois são práticas empregnadas em nós. Isto será preciso para que possamos nos livertar das amarras da rotina e nos tornarmos pessoas livres de nós mesmos e não em gaiolas. Somos muito mais pássaros quando voamos por nossas causas.
Marcos Carneiro


Um comentário:

  1. Belo texto, que me faz lembrar de dois pensadores importantes: Confúcio e Jean-Paul Sartre.

    Confúcio disse: "Há pessoas com quem se pode compartilhar informações, mas não compartilhar o Caminho. Há pessoas com quem se pode compartilhar o Caminho, mas não compartilhar um compromisso. Há pessoas com quem se pode compartilhar um compromisso, mas não compartilhar conselhos".

    Talvez por isso nos tornamos tão seletivos com nossas amizades a medida que o tempo passa.

    Já Jean-Paul Sartre disse: "Ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode."

    Mais uma vez estamos diante de uma limitação, pois a infinitude de nossa liberdade é contraposta à infinitude da liberdade do outro quando nos relacionamos com alguém. Tal fenômeno implica não apenas uma limitação à nossa liberdade e à do outro, mas também a ver e combater no próximo coisas que não gostamos em nós mesmos.

    Assim, apesar do outro ser importante pro nosso amadurecimento, ele é um mal porque, além de podar nossa liberdade, nos lança em conflito conosco mesmo. O outro é um mal-necessário.

    Podemos não ser mais felizes ou melhores quando estamos solitariamente presos nas gaiolas do cotidiano, mas provavelmente somos mais livres.

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