Cinema, história e construção do pensamento humano.
Já perceberam como o cinema narra de forma minusciosa o que pretendemos viver, de uma forma genérica? Já perceberam a quantidade relevante da construção das relações cotidianas? Desde a concepção da epigênese do cinema, que tomem como base os irmãos Lumiére, lá em 1895 - o chamado cine Eden, no sudeste da França, quando foi apresentada a primeira película a ser mostrada por um refletor, em um local onde se pagava pra entrar e ver o que alí, na tela arcaica, se mostrava -, o cinema foi um elemento persuasivo nas mentes e nos anseios humanos. Um século XIX, onde acabara de descobrir o advento da energia elétrica, e então, as pessoas poderiam fazer o que nunca antes fizeram: descobrir o lado noturno da cidade. Paris, a cidade da luzes, na qual lotada ficavam suas vias para vislumbrar a chuva luminosa que a modernidade inventara. O advento da fotografia veio como a quebra das grades do entrenimento das famílias européias antes mesmo de uma tv: poderam imortalizar, de forma insalobra, o que iria cair no esquecimento. Porém, a fotografia era estática, no tocante aos movimentos e aos sentimentos da imagem. Veio o cinema para alavancar o que iria ser chamado de Drama de película. A realidade seria mostrada em movimento. As ruas de Paris ficariam muito mais cheias de gente, onde se faziam filas para ver a primeira mulher beijando um homem em público, e de uma forma apaixonante, faziam as pessoas que naquela sala entravam, sairem chorando ou esbravejando rumores de algo. Algo a ser imitado no cotidiano. Sim, não podemos negar. A felicidade teve fisionomia com o advento desta peripécia: ser feliz é sorrir, conquistar algo numa vida previamente não estabelecidade nas regras sociais (Laranja Mecânica) - observe como queremos cometer pecados sem sofrer o castigo -, contar o que ocorreu em sua passagem de vida (Forest Gump) - , em um lugar lindo, onde não há barreiras que o impessam (Amor sem fronteiras). O editor faz questão de colocar esse sonho mundano em seus personagens. A tristeza também construiu seu rosto, na esteira da realidade de uma parcela de desamparados: Charles Chaplin mostraria então, como o interior das fábricas era desumano. Como as relações que Karl Marx pregava em seu tabernáculo seriam agora, bem melhor entendidas: "a imagem diz mais que mil palavras". Além de contar história, aos modos do narrador, o cinema construiu um pensamento enraízado até os dias do nosso presente, quando saímos da sala escura como se saíssemos do útero da mãe, e nos 10 minutos seguintes, como se nascesse naquele momento. A primeira vez em que foi narrado o amor de duas pessoas na telona - com o beijo na rua ou um símbolo de irreverência em ver um homem cantando na chuva de paletó e gravata, tem o mesmo teor, características de telona de hoje, multimídia, a cores, 3D, quando vimos Tom Cruise correr na Time Square vazia (!), em Nova York, ao som de Radiohead. A destruição do inevitável e a construção do "sempre é possível". A liberdade existe na telona e sonhamos com a gente dentro dela. O europeu que saiu da sala em 1895, saiu com a cara de espilfarro do garoto que em 2009, viu o desenho animado lhe dando lições de moral. Pois o cinema nasceu para isto, além do pretexto do entretenimento e comércio belepocano.
Marcos Carneiro