Dor
Escorrendo de trincheiras das infindas guerras;
está na língua do miserável - no teu raro flavor.
No urticante itinerário em busca de imensas glebas,
de povos que semeam - amargo sol! -
o mesmo ardor.

Em becos - vazios! - de penumbras cidades;
no olho apreensivo da moça, ao nestes, passar.
No leito de morte, no ir sem explicar;
no pueril desencontro de diferentes idades.

No olhar torpe do infiel depositário;
no consenso eclesiástico do fiel celibatário.
No desarranjo de passos, em um plano fugaz;
no jazigo de jovens mártires, que aqui, jaz.

No altivez militar, ao espelhar a indumentária;
no fim suicida, daquele que jogou-se de uma vez.
No parto enquadrado de filhos de presidiária;
na trêmula fuga do malandro ao furtar o galês.

Nas varandas, nas cortinas, nas janelas;
nos rumores de praças cheias de diálogo.
Na guarita onde repousa os dormentes sentinelas;
nos cálculos meticulosos ao consertar o malogro.

Das infindas atmosferas, onde mora a abstração.
De todas as matérias, ela veio morar em mim;
em murmúrios da sinapse, eu reduzo o universo,
e a dor dos desgraçados, sobreponho, neste verso:
dor de poeta, é sabê-la não ter fim.



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