Grandeza Física Livresca
Houve um tempo em nossa juventude - não tão remota para que nossa sinapse não possa tocar com veemência -, na qual começaria a se formar aquilo que se chamaria de nós; nós no presente, no infinitivo caso fosse um verbo. A nossa ontogênese começaria por alí. Época das descobertas corporais. Da criação das primícias morais, religiosas, e de infindas coerções paternais. Época de começar a fazer e sentir-se em suas comunidades, cada qual segundo a suas escolhas ou escolhas dos tutores. Chamamos o advento de infância. Tirando uma pequena parte de acometidos de Idioitia, ébrios habituais, pródigos da vida e beberrões de esquina, loucos em vertigem e afins, vivemos nossa infância no tempo certo. Justamente no tempo em que o Tempo nos favoreceu a tal vivência com convenções de seu tipo: escorrer catarro do nariz o dia inteiro; brincar na rua, na casa, no telhado, no consultório (ops!), até voltar pra casa no fim de tarde com apenas um par do calçado, e corpo barrento até o pescoço.(Não se sabe onde arranja tanta terra). Foi também nesse intervalo cronológico que a flecha padronizada do acaso me fez viver o meu imaginário das medidas, distâncias e intensidades. Todas elas com a pitada do fantástico, inserido pelo baixo inconsciente já guardado e a quantidade de perguntas ainda sem respostas. É nesse mundo de medidas e grandezas que eu me encobria de valorar certas coisas, objetos cuja funcionalidade ainda se via obscura na epiderme verde de minha experiência. Estavam lá, ostentados quase sempre em cima da estante ou em tábuas que apregoavam-se em barras de ferro, ou sendo levados por homens de óculos passando pela rua, e até em meio às lúdicas bibliotecas que eu não entrava: estavam os protagonistas desse conto: os livros. Livro naquela época, pra mim, era um objeto de disparidades entre os seus: haviam os pobres, os ricos, os medianos, os obscuros, os intocáveis, assim como outras descrições. Não fazia o favor a ele nem de abrir a segunda página - a primeira eu abria sempre -, mas livro que se preze tinha de ter as descrições preliminares de um peru de Natal; ser fornido, robusto, limpo, cor forte, sustante, o qual se encaixava bem na mão. Livrinho manhoso, fininho, de crônicas regionalistas ia pra lixeira. Manuais de auto-ajuda eram para ajudar a fazer peso, caso o vento tentasse levantar o jornal de quem estivesse lendo. Enciclopédia não; era pomposa. O seu galicismo estava na grossura da capa, no acabamento do título que dizia: 'Enciclopédia Larousse', em letras douradas. Aquilo era enfeite de sala imperial. Pra mim que não, eu pensava; até folheava. Poderia ficar horas lendo aquele tanto de palavras descritas com contextualização ímpar, sem nenhuma relação entre si. Enquanto lia sobre 'Paris' numa folha, o olho já esticava, se apressando para chegar logo em 'Plutão'. De vez em quando cansava e folheava pra frente e desistia; era muito o que saber, e acreditava piamente, que se alguém decorasse tudo aquilo, se daria bem no programa de perguntas da televisão. Dicionário, pra minha veleidade na hora do saber, era artefato de fogueira. E no meu Index constavam outros sujeitos de se folhear, todos levavam uma aura de incômodo salutar para o creado mudo. Exemplo era o livro de receitas, coisa quase descartável na minha concepção, apesar do cheiro ser sempre bom na cozinha. Revistas eram ajudantes de tarefa de Educação Artística: recorte e cola era uma farra, uma sujeirada. Enfim, tantos outros que faziam parte da lista de encostos de seringueira: alguns códigos de leis escondidos, Constituição encima destes; algumas listas telefônicas, lista de sinopses anuais, bíblia sagrada. Opa! Esta não. Me deparei com a Bíblia também, na minha infância de menino sonhador. Essa era a complicada. Pra mim, uma velha coroca se fazia em sua imagem. Indescritível, sem conceito, como um pedaço de Marte. Pra mim era morno, mas sombreada de obscurantismo. Peça de museu. Não sem motivos. Dela, pouco se lia, e muito se ouvia falar. Era carregada na mão de homens engravatados, mulheres silenciosas de saia até o calcanhar; que andavam como se fossem lutar. Sustentava um caráter dissimulado, austero, com capa de zíper; às vezes de pano; antissocial demais pra mim, e o medo de que um dia saisse alguém lá de dentro é verossímel: na igreja dizia o pastor, que 'na bíblia está morando aquele que salva.' A fulana não tinha autor ou autora; eu ficava horas procurando e pensava até que tinha desgastado a pintura do nome. Cheguei a suspeitar que o homem que sairia lá de dentro, e que iria salvar-nos, era o autor. Até que certa vez, minha avó em sua paciência e calma peculiares, me conformou: "Larga de ser besta, mininu! A bíblia quem escrevou foi o 12 apóstolos!". Eu só balancei a cabeça, pensando alto após a explicação da senhora: pra que doze autores? O tempo então, passou. Levou-me pelas mãos, me tirando gradativamente as indagações de Realismo Fantástico; a ingenuidade descolava-me como um fardo pesado, até que outras indagações se poriam em minhas costas. Me vi aos 14 anos de idade percebendo que o peso das coisas só é válido, só é preponderante para o qual seu uso enseja. Livro então, agora, não era mais artefato físico, em sua integridade total. O livro era permeado de alguns outros personagens que se faziam interessantes, tal quais as palavras e os significados. Comecei a lê-los, incessantemente; buscava sentidos, respostas; consultava dicionários que até então eram incômodos. Pouco a pouco fui plantando um jargão que outrora não era possuido, e tudo foi correndo normalmente: eu, os livros e vazio. Vazio?! Sim, vazio. Comecei a entender que minha leitura não dava em nada. Esquecia quando lia; pulava páginas várias. Não acabava de ler completamente. Enfim, lia para passar o tempo - eu queria passar o tempo era fazendo meninisse -, esvair do fim de noite; ou pra dizer apenas a mim mesmo que lia livros. Frágil era essa situação, minha leitura não se baseava em laços fortes, tendo consigo apenas o pretexto do consumo temporal. Logo, logo estaria de volta ao entretenimento adolescente moderno: diversão eletrônica, meninas da minha idade; jogos de consquista e uso de entorpecentes legais. Os livros, mais uma vez, se encaixaram na prateleira.
A fada madrinha foi minha irmã, naquela época vestibulanda das ciências humanas. Não sei se gostava de ler para passar tempo ou para adquirir conhecimento. Mas foi ela. Foi ela que certo dia, em uma conversa diária comigo em seu quarto, entre bagunça cômoda da prateleira, me entregou um grande livro de capa azul. Laterais amarelas, meio baunilha. Pegou aquele livro e me entregou. Se intitulava "O Mundo de Sofia", de Josten Gaarder. Eu, virei a cara na hora. Ler me dava repulsa. Mas após olhar meticulosamente a capa, me fiz diplomaticamente abrir as primeiras folhas. Continha uma grande história fictícia, com personagens céleres, diálogos frenéticos. Havia nele um mistério em sua história, presságios mirabolantes, misturados ás teorias filosóficas múltiplas, narradas em mais ou menos 400 páginas. Em duas semanas e alguns dias, eu chegaria ler a última página com o olhar apático. Queria começar a ler novamente, pois alí, naquele pedaço de papel cultural proveniente de lapidações de uma árvore, e cujas dimensões não tive nem o sacrilégio de pensar, estava o estopim de um grande e ascíduo leitor.
Marcos Carneiro
Obs: Este texto não é publicidade para J. Gaarder. Só parece.
Woow, PARABÉNS PELO TEXTO! Eu realmente fiquei arrepiada! Você escreve muito bem, usando uma linguagem perfeita! Gostei de verdade! Irei te seguir!
ResponderExcluirFalando sobre o texto... o desinteresse na leitura é grande hoje entre os jovens... e sim, acredito que um livro muda uma vida, eu tambem não era muito de ler... lia, mas lia aqueles pequenos livros de contos que se encontram em qualquer biblioteca de escola... e um dia, resolvi ler um livro de ficção, e aquele dia me mudou... aquele livro me despertou a paixão pela leitura e pela escrita.
A informação presa, envelhecida se alimenta de poeira dentro daquela barsa que enfeita a estante da sala. Os fatos ficaram obsoletos, antes o tempo de vida das enciclopédias aguentavam gerações e hoje totalmente esquecidas.
ResponderExcluiracho q vc escrveu bem
ResponderExcluircom uma otima base
apesar de não gosta muito do tema
ta muito bom
xD
Ótimas publicações, porém devem ser atualizadas... verbetes... são obsoltos de fato...
ResponderExcluirboa escrita pública vc tem talento!!!
ResponderExcluirO melhor blog do meu .... Bairro
http://blogdocharque.blogspot.com/
cara, vc escreve super bem, está de parabéns.
ResponderExcluire pena que os jovens (eu) de hoje em dia não lêem nem o suficiente para um bom aprendizado.
HSUAHSUAHSA
ResponderExcluirmuito bom seu texto
Eu tinha esses livrinhos roxo da Larousse Cultural...
não é um tema que me agrade muito
ResponderExcluirmas parabens...escreveu muito bem
Adorei a retrospectiva pessoal e harmônica dos momentos... Eu não chegeui a ter livros da larousse Cultural... Mas um antigo livro de lenddas regionalistas fizeram as honras para me aencantar na literatura quando criança...
ResponderExcluirO Mundo de Sofia li em dois momentos distintos da minha vida... e deixou um grande marco em mim!
;D
seus textos são muito bons ja penso em posta diariamnt?
ResponderExcluirGostei do blog. Tô te seguindo.
ResponderExcluirGostei mto do seu texto amigo, como todos já disseram, mas para deixar sem dúvida alguma, vc escreve super bem...
ResponderExcluirmas, não sou a pessoa certa para comentar... kkkk... pois, não sou mto fã de leitura, porém qando preciso...
Bom, mesmo assim sou daqle tipo q diz: "Façam o q digo, não o q faço"
A leitura é algo indispensável para se obter uma boa comunicação e escrita, além de ser fonte infinita de informação!!!
Bem, um abraç.
Agradeço sua visita, ótimo blog!
ResponderExcluirÓtimo texto. Você escreve muito bem.
ResponderExcluirabçS =]
Nossa... o que foi isso.
ResponderExcluirQue texto trabalhado, mas trabalhoso.
algumas horas me perdi um pouco.
gostei da diálogo com a avó.
Já li "O Mundo de Sofia"...belo livro, e um texto realmente muito bem detalhado e trabalhoso, mas que valeu a pena...é uma ótima leitura! Belo blog, diga-se de passagem
ResponderExcluirotimo texto ^^
ResponderExcluirmt bom msm .. apesar do tema não chamar mt minha atenção vc escreve mt bem :)
Mundo de Sofia, preciso ler esse livro pra aula de filosofia, mas to sem tempo.
ResponderExcluirli o mundo de sofia quando era menor, pelo menos tentei, várias vezes. aueahshaiuhua
ResponderExcluirO mundo de sofia, essa ultima imagem... livro mto bom !!!
ResponderExcluirIrei ganhar o livro Mundo de Sofia de dia das crianças =) UHUAHAU, meus pais adoram me dar livros e eu amo ler, acho que já vi Larousse Cultural na casa de alguém, só não lembro quem :x
ResponderExcluirAdorei o blog =)
Tanta gente fala do "Mundo de Sofia"... é capaz de eu pegar ele pra ler qualquer dia... valeu!
ResponderExcluirA leitura só não é maior no Brasil, pois há o preconceito de que ler não é legal... ler é chato. Enquanto não mudar essa mentalidade, esse conceito não mudará...
ResponderExcluirparabens
ResponderExcluirotimo blog
Exelente, muito bom mesmo!
ResponderExcluirA leitura é o que costumava ser o futuro. Pessoas se ocupam com várias outras coisas, esquecem o êxito que teriam se aproveitassem desta.
seus posts são mto bons, realidade em forma de palavras
ResponderExcluira leitura muda as pessoas. devemos ter sempre esse costume. post muito bem escrito. bjs
ResponderExcluirComigo foi diferente. (alguma coisa me diz que a garota de cima não leu o post para comentar. Apenas um pensamento) Meu primeiro livro foi O Menino Do Dedo verde (minha professora do quinto ano o roubou de mim. Triste) ganhei-o de uma tia e nunca mais parei de ler. Leio de tudo mas prefiro com certeza a literatura pesada, cheia de drama, paixão, desejo, pecado e erotismo. Confesso que nada me faz ler um livro que eu não tenha gostado nas primeiras páginas (Nem mesmo a ameaça de nota baixa em Literatura Portuguesa). Meu escritor brasileiro favorito é Caio Fernando Abreu. Estou confuso quanto ao que estou lendo agora. Ora leio Carrie, A estranha, de Stephen King e o deixo para ler Entrevista com o vampiro, de Anne Rice. Meu comentário não fez sentido. Estou certo? Sou sempre muito confuso.
ResponderExcluirMister Neurotic, pra sua informação eu li sim o post dele. quando eu disse que devemso ter o costume de ler, me referia ao ultimo topico do post, ás vezes pegamos um livro e julgamos sem saber o conteudo. Acho que você é que não entendeu o que eu quiz dizer.
ResponderExcluirRealmente ler é uma experiência fora do comum. Infelizmente não é uma prática apreciada por muitos em nosso meio.
ResponderExcluirInteressante seu ponto de vista...
ResponderExcluiracesse: http://adolescente-antenado.blogspot.com/
parabéns pelob blog
tem que gostar hein...
ResponderExcluirNossa, postagem grande heim, deu trabalho!
ResponderExcluirMas enfim, você está de parabéns. Seu texto está perfeito. Adoro ler e escrever, e incentivo a leitura a todas as pessoas. Há mais coisa em um livro do que nós possamos imaginar.
Novamente, parabéns!
xoxo ML ( Bisneta de Monteiro Lobato)
gosta bastante neh
ResponderExcluirso d le da p/ ve oq vc sente
Gostei do texto, nunca li esse livro, mais suas palavras me encantaram pra um dia lê-lo, parabéns!
ResponderExcluirAdoro O Mundo de Sofia! Tenho um exemplar antigão aqui em casa, peguei primeiro quando eu era meio pirralha, então não gostei muito - não entendi, para falar a verdade. Mas é um livro que me acompanhou em fases... gosto também de O Dia do Curinga, que também é do J. Gaarner. A Biblioteca Mágica... haha, grande história com os livros dele.
ResponderExcluirMuito bom o texto, gostei mesmo. Acho que todo leitor começa com um pouco de rejeição precoce. A questão é achar "O" livro que abre as portas para outras centenas.
Estarei acompanhando, se tiver tempo.
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http://compulsiondotcom.blogspot.com/
Legal o blog, legal o layout!
ResponderExcluir;D
Vou te seguir!
ResponderExcluirgostei do blog, parabéns pelo texto :)
ResponderExcluirQuando puder passe lá no meu, agrdeço.
Adorei a maneira como usa as palavras. Obrigada pelo elogio e também estou te seguindo, Marcos. Espero novos textos. Um grande beijo!
ResponderExcluirAdorei, adoro esse tema!
ResponderExcluiroi, gostei bastata do seu blog .. e desse texto. voce escreve bem. vou ler outras postagens;... beijos qdo der passa no meu ;;
ResponderExcluirmuito bom o texto! estou te seguindo, segue o meu blog tbm?
ResponderExcluirhttp://livreelouca.blogspot.com/
Beijos.
- adicionar seu comentário aMuito digno seu texto, bem elaborado, bem escrito e ressalta uma coisa importante a leitura que vem se tornando um abito cada vez mais incomum, parabéns pelo blog.qui -
ResponderExcluirMuito interessante seu blog
ResponderExcluirte encontrei na comunidade do orkut
to te seguindo...
da uma passada la no meu tbm
www.vou-me-ja.blogspot.com
vlw!
um ótimo texto, de fato o mundo de Sofia é um livro que marca, já li uma vez pretendo ter o prazer de alcançar a ultima pagina mais uma vez, apesar de não saber quando o farei, realmente para quem admira a literatura, sempre tem uma obra que nos marca, no meu caso foi ler "o guia do mochileiro das galáxias", a paixão pelo saber é um vicio que desenvolvemos para nosso próprio bem, não é mesmo?
ResponderExcluirhttp://bonecozumbie.blogspot.com
Vc escreve lindamente bem. *-*
ResponderExcluirbjs.
http://coposcheiosdevodkaerocknroll.blogspot.com/
Muito inteligente o texto, realmente bom, assim como o texto.
ResponderExcluirhttp://analisefc.blogspot.com/
abç
CONCORDO PLENAMENTE COM SEU TEXTO MUITO BOM
ResponderExcluirVISITE: http://adolescente-antenado.blogspot.com/
somente os bons consomem livros!
ResponderExcluirO tema é complexo, mas bem escrito!
ResponderExcluirLer pra crescer. rs Ótimo texto, apesar que está muito grande e não ser um assunto que eu me interesse :)
ResponderExcluirVocê escreve bem, sabe usar as palavras.
N foi vc que escreveu foi? se foi publica um livro ta bom d+!!!
ResponderExcluirO melhor blog do... meu bairro está de volta!!!
http://blogdocharque.blogspot.com/
Engraçado.... a forma em que adiquiri "O mundo de Sofia" é bastante semalhante a sua...
ResponderExcluirrsrsrs
Muito bom seu blog!
Abraços,
gostei do blog, belo texto. Passe la no meu blog depois, valeu .
ResponderExcluirlol. Curti o texto, também sou uma amante do livro " O Mundo de Sophia", uma pena os jovens de hoje não se interessarem tanto em literatura, mais eu creio que ainda há chance disso mudar e ter uma bela reviravolta, o que falta é mais incentivo, aqui em Curitiba/PR instalaram umas "bibliotecas" móveis nos terminais de ônibus, para que quando as pessoas estivessem aguardando o ônibus ficassem utilizando o tempo para a leitura e se tiver a carteira da Biblioteca pode levar o livro e devolver na data, achei interessante levar a literatura até os mais escassos de tempo. Vou segui-lo e aguardo novidades, saudações Keteriane.
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